1 de fevereiro de 2017

Galo Cant'às Duas apresentam videoclipe “Marcha dos que voam”

“Marcha dos que Voam” é o videoclipe de estreia de Galo Cant’Às Duas. A história transporta-nos para a comunhão do Seres com a Natureza, numa procura energética de simbologias e ações.

As personagens interpretam duas metamorfoses do Ser, as crianças, os Seres puros, sem rótulos ou quaisquer preconceitos e o Leão, um Ser forte, sem carga às costas, com certezas para onde quer ir e o que quer atingir. O clip é rodado com 8 crianças. Essas seguem numa procura de cinco partes de um talismã, que, depois de fundidas, ganham a capacidade de levantar voo, de ver para além do óbvio. As cores apoderam-se da mente, conseguindo transcender a própria visão de cada uma.

A realização e produção conta com Joana Linhares e Jeremy Pouivet que desde o início têm acompanhado esta viagem.


Depois do fenómeno quase inexplicável que abalou o rock nacional a norte do país, com Barcelos a fazer as vezes de Laurel Canyon como incubadora dos mais interessantes projectos psicadélicos nacionais, chegou a vez do interior dar cartas. Galo Cant'às Duas é uma ideia de Gonçalo Alegre e Hugo Cardoso, que são de Viseu - e fazem questão de o dizer.

"Os Anjos Também Cantam" é o primeiro trabalho discográfico do duo, mas nem por isso terá pouca projecção editorial. Lançado pela Blitz Records e distribuído pela prestigiada Sony Music Entertainment, o álbum vem confirmar as esperanças já depositadas nos Galo Cant'Às Duas pelas performances ao vivo já conhecidas que não deixavam grande margem para dúvidas quanto à inegável ousadia e virtuosismo do duo.

O carácter improvável e único, quase misterioso, da junção entre os dois músicos se ter dado num encontro artístico isolado da cidade, num local recôndito em Castro Daire, só poderia culminar num som igualmente singular.

Piscam o olho ao pós-rock e ao space rock. Riffs graves são repetidos até penetrarem nos nós cerebrais e finalmente rebentam em clímaxes com tanto de longamente antecipados como de inesperados e surpreendentes.

O uso dos loops facilita a que uma outra nuance seja determinante no som dos Galo Cant'Às Duas: a criação de camadas de som, que o tornam intrincado, complexo e multifacetado. Ainda assim, essa repetição assalta-nos de forma inusitada e pouco usual. Ao contrário dos mui aclamados e também nacionais Memória de Peixe, que fazem uso do loop como método de aglomeração de riffs que acabam por culminar numa explosão de guitarras em duelo de espadas, a percussão de Hugo Cardoso e os instrumentos de cordas de Gonçalo Alegre têm no acumular das camadas de som o seu trunfo para moldar a vibe mais atmosférica e cerebral da banda.

"Os Anjos Também Cantam" é um disco que, intencionalmente ou não, não deixa passar em claro a predilecção pelo cariz sensorial da música criada pelos Galo. É curioso atentar no uso constante do verbo nos títulos: "Os Anjos Também Cantam", "Marcha dos que Voam" e "Respira" deixam bem vincada a intenção dos Galo Cant'Às Duas convidarem o ouvinte a fazer parte da acção do disco. Fazerem deste álbum de estreia uma experiência, uma viagem.

Se nos focarmos no aspecto sónico, essa viagem será provavelmente associada a um cariz cósmico, espacial. Em "Respira", por exemplo, os nossos ouvidos são irrompidos por um contrabaixo a fazer lembrar uns saudosos Raindogs, que a juntar ao estado de espírito ambient desta composição nos trazem o momento mais psicadélico e dreamy do disco.

Contudo, virando os holofotes para um prisma mais conceptual, a viagem que este disco pretende representar pode muito bem ser temporal, do passado ao futuro. Pela "capa", ou neste caso pelo nome do duo, poderíamos ver uma alusão a elementos mais tradicionais, com uma expressão aparentemente tão familiar e quase conservadora como Galo Cant'Às Duas. Mas, abrindo o livro que é este "Os Anjos Também Cantam", ouvimos meia hora de canções que embora não sejam futuristas nas texturas ou no método, conseguem ser inovadoras e imprevisíveis na sua forma e estrutura. E, a espaços, sublimes.

Os anjos também cantam, diz o nome do disco. O Galo só sentiu o impulso de o fazer na última canção do álbum. Mas nem necessitava: já há muito estávamos acordados.

Luís Sobrado

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