Quando as coisas eram mais simples, fazer o que quer que fosse era complicado. Quando as coisas eram mais simples davam trabalho, e dedicavam-se anos a explorá-las, a estudá-las, a apreendê-las e a incorporá-las na nossa vida e naquilo que fazíamos. Quando as coisas eram mais simples respeitar a tradição nem era algo que se questionasse, porque a tradição era o caminho trabalhoso para o que quer que de original pudessemos vir a ser.
E assim contra todas as expectativas continuam o verdadeiro afã de serem úteis e servirem o seu propósito, de serem fiáveis como foram os seus gigantes antecessores, a quem pelo simples facto de existirem e persistirem prestam um tributo honorífico.
Por esse mesmo simples acto teimoso (lá está) mas paciente de existirem dessa forma simples e sem artifícios no meio dos nossos complexos tempos, os Nobody’s Bizness afirmam com as armas da modernidade (Crowdfunding? Check. Página de facebook activa? Check.) a sua individualidade à moda antiga. Uma individualidade que não é feita de grandes e vistosas aparições, mas que é perceptivelmente construída em anos de ensaios e concertos; uma individualidade que exige a audição das canções e que foi nitidamente construída e burilada ao longo do tempo para se aproximar cada vez mais de um traço de carácter – esse intangível que não os distinguirá da maralha ruidosa a gritar por atenção no meio da espuma dos dias que correm, mas que tocará uma fímbria fundamental de sentido a cada reencontro futuro com um ouvinte atento, construindo lentamente um lugar de familiaridade no nosso quotidiano e na nossa colecção de discos.
No fundo, este disco dos Nobody’s Bizness é efectivamente um “donkey”: um símbolo de tradição e teimosia no meio da impaciente voracidade das “coisas mais imprescindíveis de sempre” dos últimos 5 minutos.
Francisco Silva (Old Jerusalem)
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