10 de agosto de 2015

O que é que está a acontecer em Viseu?

Em Viseu está a nascer uma nova cena musical, algo que não acontecia há já bastante tempo. E falo numa cena, e não num surto…



Caracterizo isso dessa forma devido à consistência, quantidade, qualidade, variedade, identidade e ainda devido a um sentimento que se vai generalizando entre músicos e publico, que lenta mas sustentadamente vai abraçando cada vez mais pessoas que se identificam com o que está a acontecer, que o procuram potenciar e até proteger.

Viajando pelo país, para quem for musicófilo, torna-se mais ou menos notório que há uma identidade sonora que se tem vindo a reforçar em cada região. Depois de séculos em que esse fenómeno teve lugar e das décadas da ditadura que procuraram contrariá-lo na procura da construção unificada da identidade nacional (e quase acabaram com ele...) e depois dos anos 80 e 90, períodos de grandes movimentos para as cidades… parecem hoje criadas as condições para percebermos como cada zona se define, também pelo som que constrói.


Em Viseu estamos a viver exactamente isso. Somos uma cidade de criativos, que durante décadas (senão mais…) tiveram que pedir asilo noutros locais… mas hoje reclamamos para nós esta mesma cidade! Somos uma cidade de sons, muitos sons, tantos quantas as origens de quem cá vive!




Somos uma cidade granítica, criativa, forte, por vezes violenta e dada às emoções. Somos uma cidade de conhecimento e convivência… Não seria de estranhar que isso estivesse estampado na música que por cá se cria.

PromethevsShutter Down, Smoking Beer, Tales and Melodies, Madame Limousine, The 7Riots, Dark Waters, Bulldozer, Blackbird, The Greyhound James Band, João Bota, Bruno Pato, Hugo Pé Descalço, Adãomastor, Even Time, Rock Enlatado, Crude, Amaterazu, Tiger Picnic, The Dirty Coal Train, Volcano Skin, Memoirs Of A Secret Empire, Tranglomango, Miska, Liqidu, Adega13, Tilhon… São apenas alguns dos projetos que tocam o ano inteiro por esta zona, mas mais importante que isso, que levam o nome da cidade e do que aqui se cria e constrói para outros locais, durante todo o ano!
É hoje cada vez mais frequente encontrar bandas e músicos de Viseu a trabalhar como embaixadores do que por cá se faz, inclusive fora do país!


Seria completamente injusto mencionar os músicos e não falar do resto… Hoje Viseu tem salas que mês após mês ganham o seu próprio lugar no circuito nacional, tais como o Estudantino ou a ASDREQ que abraçou a Associação Cultural Fora de Rebanho. Um breve olhar no historial das bandas que já pisaram estes palcos leva a perceber com alguma clareza que estão no caminho para a história, tanto mais se considerarmos que não somos Lisboa ou Porto.

Há hoje programadores como Omega Som, Boo-King, Fora de Rebanho e Cadeira Amarela que se preocupam em alimentar a cidade com propostas de qualidade e variedade.

Temos, como talvez nunca tenhamos tido, fotógrafos de espetáculos que realizam trabalho com uma qualidade notável, dos quais posso destacar o Pedro Sales ou o Stalking Project.

Na produção, para além do trabalho notório do José Rocha (Rocha Produções) que durante anos a fio tem mantido o HardMetalFest, e nestes últimos tempos ViseuRockFest e Penalva Rocks, temos equipas cada vez mais especializadas para esse trabalho. Eventos como Jardins Efémeros, Outono Quente da Associação Cultural Zunzum, Festival de Jazz de Viseuorganizado pela Gira Sol Azul, e Musidanças contribuem para as trocas entre propostas e agentes culturais e públicos.

Produções audiovisuais como o Musiquim ou os Yellow Clips, apresentam uma nova forma de registo musical, mais próxima da realidade dos músicos, mais propensa à proximidade com o público. Fazem-no com o cuidado em manter uma estética própria mas também com o cuidado de oferecer registos menos prováveis, mais desafiantes em relação ao status quo.

No agenciamento, não posso deixar de referir que a Cadeira Amarela tem feito tudo o que consegue por promover o crescimento deste movimento. Tem trabalhado com a grande maioria dos projetos musicais da cidade e tem conseguido que fora de portas seja cada vez mais difícil ignorar o que por cá se passa.

Hoje conseguimos nesta zona, ter uma programação invejável no que a musica original e alternativa se trata. Desconfio que nenhum outro distrito tenha programação a este nível…
Hoje conseguimos ver músicos a partilharem backlines, a convidarem-se mutuamente para suportarem concertos, a fazerem por assistir aos concertos dos restantes projectos, a partilhar estrada, balcões, carros e projectos. 
Os músicos que por cá passam, seguem e falam da forma como são por cá recebidos e do público que encontram.

Onde ainda sentimos uma falta considerável é na forma como a comunicação social ainda não se mostra atenta ao fenómeno. Há uma lacuna nas rádios locais e nacionais e até mesmo nas páginas de jornais. Falta também um evento agregador que facilite a comunicação para o exterior e marque definitivamente este processo… uma espécie de Milhões de Festa…

Mas mais do que pensar no que ainda falta, há que celebrar o que está a acontecer, este admirável mundo novo cheio de oportunidades e desafios.

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